terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Pra ele:





Eu já sonhei muito com você. Daqueles sonhos acordados que muitas vezes já me ocorreram: tolices do tipo ganhar um cafuné, passar uma tarde a dois, sem preocupação com o que havia além de nós. Daqueles sonhos que a gente sonha quando dorme. Situações fantásticas, fragmentadas que se dissipam com o próprio sono e muitas vezes não chegam a formar uma lembrança, fica apenas a certeza de você no sonho.

Já tive sonhos mais realistas também. De situações que a gente viveu juntos e que se resolviam de outra forma, dentro de outro contexto. Já sonhei que havia entre nós algum afeto que nos infernizava o ciúme. Já sonhei também que a gente morava em países diferentes e se via todas as noites antes de dormir nas telas dos computadores.

A vida é sonho, eu não sei se sei. Mas essa noite, eu sonhei que vocêmorria. E que quem me avisava era a sua mãe. Ela me avisava com muita calma e falava que o filhão dela tinha partido, mas não dizia o motivo. E ela me avisava depois de tudo, bem depois de tudo.

Quando eu soube que você morreu, você já havia ido embora. Todos os seus amigos tinham se despedido de você no velório e eu fui deixada de fora. Fisicamente. Eu não te disse adeus. Sua mãe me dava à notícia e me dizia que era para eu passar lá na sua casa para escolher algum objeto seu para guardar de lembrança.
Quando eu acordei, os olhos molhados, o travesseiro molhado. Comentei com a minha mãe que sempre se interessou por sonhos, e por você, e ela me disse que sonhar com morte é vida para a pessoa, o que me alivia um pouco.

Eu não sei enfrentar a morte, eu nunca soube. Eu muitas vezes também não sei enfrentar a vida. Eu quis te escrever porque você ainda é o cara para quem eu quero correr. Que é destino de boa parte do que eu escrevo, sem nem escolher, sem nem ter sido consultado, mas que é minha melhor direção e isso me basta.

Eu sei que a gente anda longe geograficamente, sentimentalmente,  e sei que eu perdi um tanto da minha tolerância em relação a nós. Mas por TENTAR proteger o que ainda havia de bacana, eu preferi ficar de longe e ver se não doía tanto. Não foi nada planejado. Não foi pensado para produzir reações ou efeitos. Foi. Está sendo.
Eu amo você. Diferente. E eu vou torcer para que você compreenda essa diferença, que é apenas uma diferença, sem que eu possa explicar ou metaforizar. O que existe entre nós e que me faz acreditar nessa diferença, é ainda uma palavra – e uma sensação – que eu não sei descrever. E talvez eu te escreva tanto para saber se um dia eu consigo me aproximar do significado dessa sensação sem verbo.
Eu não quero NUNCA te perder. Acho que essa frase seria a síntese de tudo o que foi escrito.



esse foi o sonho que eu nunca te falei...

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