Mais uma vez eu olho pro lado e tenho a certeza de que aquela situação não deveria estar acontecendo; mais uma vez olho pra mim e tenho a certeza que me pus na droga do momento em que estou porque sou uma completa idiota que tem vocação pra sofreguidão em doses cavalares; aí eu me olho só mais uma vez, tímida, e vejo que as minhas esperanças não morrem nunca, apesar de as minhas burradas me matarem cada vez mais, em pequenas porções, aos poucos. Eu tenho vergonha de tudo que eu faço porque eu não acho que ser feliz momentaneamente valha um sorriso sincero. Eu tenho medo de cair, de novo, na mesma burrada e acabar chorosa, numa quina de cama me sentindo o rato mais sujo do esgoto; olhando pra mim e confirmando o meu achismo. Eu tenho pavor das pessoas em volta que olham tudo por cima da sua capacidade surreal de tornar tudo em futilidades, futilizando ainda mais a minha espera pelo meu momento de leveza, de pulmões cheios de ar. Aí as coisas acontecem e as esperanças crescem, só que as esperas nunca chegam. As semanas passam, a leveza vai indo embora, as pessoas vêm, as pessoas vão, a vida passa, a vida volta... e nada é nunca como era no começo, mas a vida volta em reprises e é cada vez mais difícil lidar com a exaustão do fim das coisas.
Rani G.
Rani G.
Dançar com a vida com mais leveza, sem medo de pisarmos nos pés uma da outra.
Quero fazer o meu coração arrepiar mais frequentemente de ternura diante de cada beleza revista ou inaugurada. Quero sair por aí de mãos dadas com a criança que me habita, sem tanta pressa.
Brincar com ela mais amiúde. Fazer arte.
Aprender com Deus a desenhar coisas bonitas no mundo.
Colorir a minha vida com os tons mais contentes da minha caixa de lápis de cor.
Devolver um brilho maior aos olhos, aos dias, aos sonhos, mesmo àqueles muito antigos, que, apesar do tempo, souberam conservar o seu viço.
Quero sintonizar a minha frequência com a música da delicadeza.
Do entusiasmo. Da fé. Da generosidade.
Das trocas afetivas. Das alegrias que começam a florir dentro da gente.
Ana Jácomo